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Waves abre caminhos no mercado Forex – entrevista exclusiva com Sasha Ivanov

Confira a entrevista que o fundador da Waves, Sasha Ivanov, concedeu a Tatiana Koffman, da Forbes. 

As tecnologias de finanças descentralizadas (DeFi – Descentralized Finances) continuam a liderar as inovações no setor do blockchain, oferecendo alternativas ao sistema financeiro tradicional para ações, títulos e derivativos. Recentemente, a FTX listou pares de negociação com criptos para ações como as da Amazon, Apple e Tesla.

O Forex, negociação de moedas fiduciárias, é uma área das finanças tradicionais que perdeu espaço no mundo DeFi. Iniciado originalmente pela Ripple (XRP), o forex permanece interessante para remessas de dinheiro e negócios globais, em especial para pessoas que desejam proteger-se do risco cambial em seus fluxos de caixa de importação e exportação. Uma nova demanda foi criada em mercados emergentes, nos quais as moedas locais continuam experimentando instabilidade e a demanda por moedas “estáveis” como o USD, EUR ou CNY está em alta.

A Waves é uma empresa que vem enfrentando esse desafio, ao criar produtos Forex no blockchain. Esta semana tive o prazer de entrevistar Sasha Ivanov, fundador do Waves, para conversar sobre sua jornada no mundo das criptomoedas e sua visão para a Waves.

Da Rússia saíram alguns dos empreendedores mais conhecidos das criptomoedas como Pavel Durov do Telegram, o russo-americano Sergey Nazarov, da Chainlink, Stani Kulechov da Aave, Alex Mashinsky da Celcius, e o criador do Ethereum, o russo-canadense Vitalik Buterin. Essa tendência da presença forte de russos nas criptomoedas é em grande parte impulsionada pela percepção de que as criptomoedas podem oferecer uma melhor alternativa ao Rublo, constantemente inflacionado. Soma-se a isso a supervisão do governo russo ao sistema financeiro tradicional e a instabilidade bancária da região.

Sasha Ivanov é graduado em física teórica pela Moscow State University. Iniciou sua carreira programando softwares de trading para mercados internacionais de câmbio, fazendo uso de redes neurais artificiais. Ele também atuou em sistemas de negociação de rede neural para bancos. O interesse do Sasha por moedas digitais surgiu em 2013, quando ele percebeu o potencial do blockchain para a setor financeiro. Em 2016, ele fundou a Waves com a missão de tornar o blockchain mais acessível para usuários comuns.

Sasha Inavov

Tatiana Koffman: Obrigada pela entrevista Sasha. Vamos começar entendendo como foi o seu início no mundo da criptomoedas?

Sasha Ivanov: Obrigado por me receber, Tatiana!

Após a formatura, eu trabalhei em vários fundos hedge envolvidos com estratégias financeiras. As criptomoedas tinham acabado de chegar e as instituições tradicionais estavam começando a olhar para esse mercado, mas ninguém levava as criptomoedas muito a sério. Eu me interessei por blockchain, provavelmente por causa da minha visão como físico e do meu interesse por tecnologias que exigissem um pouco mais do que a matemática interminável das análises financeiras. Eu queria “tocar” a tecnologia. Então participei, em 2013, da comunidade do protocolo NXT, um dos primeiros protocolos proof-of-stake criados.

Essa tecnologia mudou completamente a minha visão da realidade. Percebi que, graças ao blockchain, agora era possível criar modelos financeiros totalmente novos, até então difíceis de imaginar ​​nas finanças tradicionais. Modelos trustless, confiáveis ​​no nível tecnológico e organizacional. Um consenso tecnológico poderia ser substituído por um consenso social. Tudo isso mexeu com a minha imaginação e eu tive um fluxo de ideias e energia, conforme várias imagens de ferramentas financeiras e não financeiras vinham em minha cabeça.

Na época, os blockchains existentes apresentavam defeitos em praticamente todos os aspectos, desde a má usabilidade e interfaces limitadas até a falta de “suavidade” na execução das operações mais simples, que agora são consideradas básicas. Eu queria construir a plataforma mais avançada, que fosse acessível até mesmo para as pessoas que não possuem habilidades técnicas. E é o que tenho feito até hoje.

Tatiana Koffman: Como você descreveria a Waves para quem não conhece o produto?

Sasha Ivanov: Atualmente, a Waves.Tech é um ecossistema de soluções e produtos de blockchain, com foco nas finanças descentralizadas entre diferentes redes (InDeFi). Utilizamos três protocolos de blockchain:

  • Waves, um protocolo de código aberto projetado para acelerar a adoção de aplicativos DeFi, além de outros casos de uso para dApps;
  • Neutrino, um protocolo de multiativos com preço estável e algorítmico que permite a criação de stablecoins vinculadas a ativos do mundo real;
  • Gravity, uma rede descentralizada de cross-chain e oracle, baseada em um protocolo agnóstico de blockchain para comunicação de blockchains entre si e com o mundo exterior, trabalhando com as economias de token nativas das redes as quais o Gravity se conecta.

Tatiana Koffman: Como surgiu a ideia do Neutrino?

Sasha Ivanov: No final de 2018 e início de 2019, os holders de criptomoedas queriam proteger seu capital de um mercado em declínio. Na época, a tendência de mercado negativa levou os investidores a se interessarem pelas stablecoins algorítmicas, como uma forma de esperar o período de baixa do mercado.

Foi assim que surgiu o conceito do Neutrino USD. Primeiramente, os usuários foram capazes de gerenciar todos os fundos bloqueados no contrato inteligente do Neutrino na forma de USDN, protegendo seu capital da desvalorização das criptomoedas. Em segundo lugar, como é possível colocar o token WAVES em stake, os investidores puderam coletar um rendimento extra.

Em terceiro lugar: a economia do USDN tem um token de governança interno, o NSBT, Neutrino System Base Token. Esse é um instrumento comercial de alavancagem, enquanto os fundos são armazenados em USDN, oferecendo aos holders uma renda passiva.

Essa é a base do mecanismo de staking na plataforma Waves – todos os usuários podem colocar suas WAVES em stake e ter um rendimento anual garantido de 6%.

Posteriormente, foram lançados ativos atrelados a várias outras moedas importantes, como EURN (Euro), GBPN (Reino Unido), CNYN (China) e JPYN (Japão), mas também ativos locais específicos, representando comunidades importantes da Waves, como TRYN (Turquia), UAHN (Ucrânia) NGNN (Nigéria), BRLN (Brasil) e RUBN (Rússia). Aproveitando os recursos dos protocolos Waves e Neutrino, fomos capazes de estabelecer o DeFo, um Forex descentralizado, baseado em blockchain, mas tendo em mente as necessidades diárias da comunidade global.

Tatiana Koffman: Com tantas stablecoins atualmente no mercado, qual é a vantagem de usar USDN em comparação com algumas das marcas já estabelecidas como USDT e USDC?

Sasha Ivanov: Primeiro nós temos que diferenciar tokens lastreados em fiat, presentes em blockchains públicos e tokens algorítmicos ou lastreados em criptomoedas. O primeiro generalizou-se devido aos acordos com os bancos, embora o segundo tenha surgido anteriormente.

Ativos estáveis ​​clássicos, não algorítmicos, afirmam ter lastro em Dólar americanos, Euro, outras moedas fiduciárias ou mesmo commodities, na conta bancária do emissor e na proporção de 1: 1. No entanto, na maioria dos casos, é impossível verificar as reservas de lastro, visto que muitos emissores são registrados em jurisdições offshore e a única garantia do peg é a confiança dos usuários no emissor. Na verdade, não se trata de criptomoedas, mas sim de dinheiro digital “tokenizado” no blockchain.

Neutrino USD pertence a uma outra categoria de stablecoins: descentralizadas. Ativos ​​desse tipo são criados sem envolvimento de moedas fiduciárias ou sistemas financeiros tradicionais, com taxas governadas por algoritmos. É por isso que elas também são chamadas de stablecoins algorítmicas.

Tatiana Koffman: E quanto as outras stablecoins populares descentralizadas, como o DAI?

Sasha Ivanov: O DAI funciona no blockchain Ethereum e tem como lastro o ETH, a criptomoeda base desse blockchain. Sua vinculação ao Dólar norte-americano é apoiada por mecanismos técnicos e de mercado, baseados em contratos inteligentes, que implementam um algoritmo de estabilização de preços. Um colateral na forma de ETH é bloqueado em um contrato inteligente e um novo ativo é lançado com base nele. A estabilidade de preços é alcançada pelo mecanismo CDP (Collateral Debt Position), com um colateral excedente de até 50%, em média. Ao resgatar seus tokens, o usuário recebe ETH de volta em sua carteira.

O USDN, por sua vez, tem uma mecânica completamente diferente. Esta é a primeira stablecoin algorítmica que não é baseada em empréstimos. A emissão do USDN ocorre quando o usuário envia Waves para o contrato inteligente Neutrino, recebendo um número de tokens USDN igual ao número de Waves enviado. O usuário não possui mais as WAVES, mas sim o USDN recém-emitido. O contrato torna-se o novo dono dos tokens WAVES e os coloca automaticamente em stake, gerando uma recompensa anual em torno 6%, paga diariamente em Waves. O contrato inteligente do Neutrino converte para USDN essa recompensa do stake de WAVES e a distribui proporcionalmente entre todos os usuários que colocarem seu tokens USDN em stake, nas últimas 24 horas.

Para estabelecer uma base de usuários ainda mais ampla, o USDN foi recentemente transferido para o ecossistema Ethereum, trazendo as pools de stablecoins do USDN e a funcionalidade de Yield Farming para usuários de protocolos baseados no Ethereum. Outro passo importante foi a integração no Curve.fi. Em menos de 2 meses, a pool USDN do Curve.fi cresceu mais de U$150 milhões e ainda permanece uma dos pools mais lucrativas, em parte devido ao seu rendimento inerente. Posteriormente, o Ethereum USDN foi portado para a Binance Smart Chain, que é atualmente a terceira maior rede. E o número de redes para implementação do USDN só aumentará.

Tatiana Koffman: Como você vê o Neutrino competir com o DCEP e eventualmente com o Digital Dollar?

Sasha Ivanov: DCEP é um exemplo de onde as fronteiras entre moeda fiduciária e blockchain são confusas. Não é uma fiat verdadeira, mas também não é blockchain como o conhecemos. É uma infraestrutura destinada a alavancar aspectos específicos de ambos os sistemas financeiros, para cumprir as metas de um sistema de pagamento projetado pelo governo chinês. Isso se refere a todas as “Central Bank Backed Currencies” – CBDCs” (“Moedas Lastreadas pelo Banco Central”) que são conhecidas e estão sendo discutidas agora. Mas o Neutrino difere dos CBDCs na maioria, ou em pelo menos todos os aspectos essenciais. Quanto ao Dólar digital, é possível que ele tenha um resultado semelhante, embora ligeiramente diferente. Os requisitos e as soluções governamentais são muito diferentes dos protocolos de blockchain voltados para a inovação. Esses não são vinculados a problemas da sociedade, sendo limitados apenas pela imaginação e eficiência de pico teórica.

Mas as vantagens do DCEP para usuários de serviços bancários tradicionais, como emissão gerenciada, KYC ou controle governamental, acabam sendo desvantagens para a comunidade das criptomoedas. À medida que o segmento CBDC se expande, o segmento das stablecoins descentralizadas e algorítmicas também ganhará impulso. Independentemente de bancos e reguladores governados por uma comunidade descentralizada, elas garantem a estabilidade das reservas por meio de algoritmos que não envolvem o fator humano. Elas se tornarão criptomoedas estáveis ​​reais, em vez de apenas dinheiro digital.

Tatiana Koffman: Qual será o efeito do Neutrino em mercados emergentes como a África?

Sasha: Muitos países em desenvolvimento ainda têm dificuldades para acessar instrumentos financeiros tradicionais. Esse é um problema que o Neutrino pode resolver, pois qualquer pessoa pode acessar a cripto de qualquer lugar (desde que não haja restrições legais). É por esse motivo que o NGNN, associado a Naira nigeriana, é um dos ativos mais populares da Waves.Exchange. Vemos um enorme potencial nas regiões em desenvolvimento e continuaremos construindo nossa presença nesses locais. Muitos freelancers africanos enfrentam restrições para receberem o pagamento por seus serviços, um problema que os ativos do Neutrino já estão resolvendo, mas ainda em uma pequena escala para nossas aspirações. O NGNN também permite que cidadãos africanos aproveitem um alto rendimento e se protejam contra a inflação, ao mesmo tempo que oferece a proteção necessária contra as desvalorizações da moeda nacional. Há também a opção de diversificar para ativos atrelados ao Dólar e ao Euro, que são menos voláteis.

Um aspecto específico aqui é a capacidade das criptomoedas em ajudar a superar as altas taxas de remessas. Isso é relevante para muitas outras regiões, não apenas os cidadãos africanos, mas para todos aqueles que desejam enviar remessas através das fronteiras e dentro de seus países de forma mais barata. Por exemplo, na África, as taxas de transferência bancária são exorbitantes. É por isso que as transações com cripto aumentaram 55% nos países africanos em 2019. Um crescimento semelhante no interesse em stablecoins foi observado em países da América Latina e outras economias em desenvolvimento.

Tatiana Koffman: Quais são alguns dos desafios regulatórios que você espera enfrentar ao entrar em novos mercados?

Sasha: Não é incomum que a inovação tecnológica preceda as mudanças na estrutura regulatória, necessárias para permitir tecnologias inovadoras e muitas vezes de “melhoria na qualidade de vida” ou “melhoria da sociedade global”. Não prevemos grandes desafios, mas estamos cientes de que essa área cinzenta em que nossa indústria opera muda rapidamente. Todos estamos receptivos as mudanças, mas é preciso apenas aplicar o bom senso aos aspectos regulatórios. Não podemos, no entanto, negligenciar o fato de que os países cujos cidadãos têm a necessidade mais urgente de soluções podem ter os regimes mais opressores ou geralmente protetores do status quo. Isso não deve nos impedir de fazer o que está dentro de nossa capacidade.

Tatiana Koffman: Como você vê o Neutrino daqui a 5-10 anos?

Sasha: Dez anos é um período muito longo para previsões no setor das criptomoedas. O Bitcoin existe há apenas dez anos e, em mais dez anos, toda o setor das criptos provavelmente será governado por IA e conquistará o mundo!

Mas, falando sobre uma perspectiva de curto prazo, temos grandes esperanças do Neutrino como o protocolo de stablecoin fundamental no espaço DeFi. Esperamos que as moedas estáveis ​​atreladas à maioria das moedas fiduciárias sejam emitidas por meio do Neutrino. Moedas atreladas a ações, índices, commodities e até mesmo outras criptomoedas provavelmente será nosso próximo passo. Prevemos stablecoins baseadas em Neutrino como parte das rotinas de pagamentos, no dia-a-dia das pessoas, com o Forex descentralizado e um sistema global de câmbio, no qual as stablecoins do Neutrino desempenham um papel importante.

Em geral, o Neutrino é a base da ideia principal: eliminar barreiras entre criptos e pessoas.

Tatiana Koffman: Obrigada Sasha!

Entrevista em Inglês


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